quinta-feira, 3 de junho de 2010

Ladrões de Bicicleta, Vittorio de Sica 1948


Ladrões de Bicicleta é um dos mais aclamados filmes do Neo-Realismo Italiano, período, que como vimos anteriomente no blog, contava histórias de consequência da guerra que acabava de ter chego ao fim, no meio dos anos 40. O filme é uma obra de Vittorio de Sica e foi lançado em 1948. A história se baseia no desempregado Antonio Ricci, que em meio a uma sociedade italiana caótica com o fim da segunda guerra mundial, acaba arranjando um emprego no qual era dependente do uso de uma bicicleta para se locomover, e conseguir assim, colar os cartazes que garantiriam seu ganha pão. O emprego seria algo de grande valor para Antonio, uma vez que em seus cálculos, lucraria uma bom dinheiro, porém, havia um problema que acaba sendo fundamental no desenrolar da trama: Antonio não tinha uma bicicleta e como não podia deixar de aceitar esse emprego, já que a lista de espera era enorme, como notamos na primeira cena do filme, ele acaba tendo que mentir, afirmando que tinha o meio de locomoção. Para conseguir a bicicleta, ele vai para sua casa onde ao lado de sua esposa Maria, vende alguns de seus pertences para poder comprar o objeto. Nesse inicio de produção, já conseguimos notar diversas características do neo-realismo, a primeira é uma Itália em ruínas com diversos problemas de ordem social, a segunda é o enfoque na simplicidade das cenas, sempre com uma multidão de pessoas em praticamente todas as tomadas e com um fundo musical presente, seja com trilhas que aumentassem a dramaticidade da situação, ou com vozes, em momentos que o protagonista estava no meio das multidões, aumentando a realidade e nos inserindo no contexto, mesmo com o espectador não estando lá de corpo presente.


Feliz com a bicicleta e conseguindo iniciar sua carreira como colador de cartaz, é possível começar a presenciar como era o dia a dia de Antonio em sua casa, e o carinho dele para com seu filho Bruno. Abrindo um parêntese, no percurso de pai e filho até o trabalho, é impossível não relembrar de “A vida é Bela”, de Roberto Begnini, filme vencedor de Oscar e com vários traços do neo-realismo. Voltando a Ladrões de Bicicletas, em um destes dias, Antonio acaba tendo sua bicicleta roubada, o que joga no lixo toda sua possibilidade de crescer na vida e isso acaba levando o filme a um novo rumo, como veremos nos próximos parágrafos. O interessante é que o autor frisa na importância dessa bicicleta, fazendo uma crítica a sociedade de consumo, e porque não, ao futuro dos trabalhadores, mostrando que um instrumento de locomoção era mais importante do que a própria presença de Antonio, assim como acaba sendo atualmente na relação pessoas/computadores.


Desesperado atrás da bicicleta, Antonio e seu filho Bruno, companheiro inseparável, saem à caça do objeto furtado. Notamos o descaso da policia italiana com relação ao roubo de um mero trabalhador endividado, também vemos diversas críticas a uma sociedade na qual as pessoas são julgadas pela aparência, isso ocorre quando pai e filho vão a uma pizzaria e acabam sendo malvistos pelos frequentadores do local. Também podemos perceber em diversas situações, um andar cabisbaixo e até em alguns momentos “corcundas” de Antonio e Maria, que certamente visam demonstrar uma inferioridade deles diante dos demais figurantes, isso devido à situação calamitosa em que viviam e aos julgamentos que sofriam. Mesmo tendo bastante ênfase na multidão e fazendo uma crítica a sociedade italiana e ao momento em que o país vivia, o filme também foca suas atenções para as relações pessoais do protagonista, em especial com seu filho, como no momento em que ele o agride e depois se arrepende, quando pensa que o menino estava sendo afogado. Mas, ainda assim estas relações estão sempre presentes em meio ao contexto social, e não acabam sendo banalidades dentro do filme, elas estão ocorrendo devido a todo o sistema e todos os problemas que os personagens vinham passando, Antonio só deu um tapa em Bruno pelo “stress” da situação do roubo da bicicleta, aliado a angustia na busca por encontrá-la.


Desistindo de encontrar seu meio de locomoção, Antonio Ricci toma uma atitude drástica, que acaba deixando quem assiste apreensivo, principalmente pela trilha sonora dramática inserida na situação. Ricci para tentar salvar sua vida e deixar de ser um miserável, se vende ao sistema, e busca uma solução mais fácil, tentando roubar uma bicicleta de outra pessoa. O que nos leva a pensar: será que o primeiro ladrão não roubou devido a estar vivendo uma situação complicada, assim como Antonio? Mas, diferente do que aconteceu com o primeiro ladrão, agora o protagonista acaba se dando mal, e é imobilizado pela multidão, ela mesma, sempre presente no filme. Quando você está puto, emocionado e triste ao ver que tudo dá errado com aquele cidadão, Bruno aparece chorando e desesperado atrás do pai, fazendo com que o homem lesado resolva soltar Antonio, dando uma última chance para o agora desempregado, isso é um final feliz? Não, mas o diretor nos mostra que o que é ruim, poderia ser ainda pior e esse era a sociedade do pós guerra na Itália, queiramos ou não.


E assim termina essa belíssima produção, um filme profundo, com várias críticas ao momento vivido na Itália, com apelo sentimental, enfim, uma obra que exemplifica bem, o que foi e quais eram as características principais do neo-realismo italiano. Em um próximo post, esmiuçarei características desta escola e quando elas estão presentes no filme, para que assim, a Engel Cinema, consiga focar e buscar uma produção que siga a mesma linha dessa importante escola do cinema mundial.

Autor: Luiz Henrique de Oliveira

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